Faz tempo q eu não escrevo...mas estou aqui.
Hoje eu fiquei pensando em quando nós decidimos vir pro Canadá, tudo parece tão distante, mas só fazem 10 meses, só, porque na minha cabeça parece que se passaram anos.
Para quem não sabe vou contar um pouco o que se passou, com a gente e comigo.
Em novembro surgiu a proposta de vir pra cá, tivemos muitas dúvidas e curiosidades.
Em dezembro tivemos certeza de que ia ser uma coisa boa coisa a se fazer, já que nunca tivemos muito medo das novidades, acho que o sangue cigano começou a ferver e foi preciso levantar acampamento e pegar estrada.
No dia 5 de janeiro fechamos a porta do nosso apartamento, acho que nessa hora eu tive um pouco de medo, mas recuar não faz parte dos meus planos, quem me conhece sabe que o meu lema é: "Se não está dando certo, faça dar certo".
Chegamos na casa dos meus pais de mala, cuia e frasqueira. Essa volta a casa dos pais fez a minha cabeça rodar, não sabia mais como era ser filha, já que agora eu sou mãe, ser filha em uma casa em que eu nunca morei, pior ainda.
A idéia inicial era o Ravi vir em fevereiro e eu ir pelo mês de abril, mas é claro que o mês de fevereiro chegou e nós ainda estávamos esperando os papéis e a divina providência acenarem.
Os meses foram se passando e as dúvidas e ansiedades foram aumentando, mas o engraçado é que eu não podia desistir, estava louca pra recomeçar a minha vida e já tínhamos ido até ali. Não, desistir jamais!
Os meses em que eu deveria vir já tinham chegado e a única coisa que eu pensava era que nada tinha acontecido ainda. PURO DESESPERO.
Meio ano tinha se passado e o Arthur não foi na escola, estávamos vivendo de sonho e esperança. Parece meio clichê, mas era a mais pura verdade.
No dia 5 de junho o Ravi embarcou, até a hora do embarque eu estava só pensando que até que em fim tudo estava andando certo, mas na hora que fomos embora e o pequeno sentiu a falta do pai e começou a chorar, parecia que o meu mundo estava desabando. Uma sensação de vazio chegou e não ia embora, nào sentia vontade de falar com ninguém, tudo era "E se...".
Durante a noite o Arthur não parava de chorar sentindo falto do pai, me senti uma viúva de marido vivo. Nove anos juntos, nunca tínhamos ficado separados, ainda mais por tempo indeterminado. Quando ele dormiu fiquei aliviada por pelo menos ele conseguir dormir...
No dia senguinte, o Ravi me ligou e aí pude pelo menos respirar um pouquinho.
Esse mês parecia que não ia acabar nunca...
Quando foi dia 4 de julho tomei a primeira atitude insana da minha vida (depois de aceitar o pedido de casamento do Ravi) pedi pro Ravi comprar nossas passagens pro dia seguinte.
Me despedi das pessoas por telefone, estava tão louca que nem conseguia pensar em despedidas, a única coisa que eu pensava era no que eu queria que viesse. Provar pra mim mesma que tudo ia acontecer, a sensação de perda de esperança é muito triste...
Quando eu cheguei no aeroporto com um monte de malas e uma criança em cima delas, ainda não tinha certeza se conseguiria embarcar, fiquei esperando até a hora da pesagem das malas, junto com o meu pai e a Fabi (amiga de todas as horas) pela confirmação do vôo, que por fim chegou.
Na fila do embarque, que eu não precisei de ficar por estar com criança não tinha muita certeza do que estava acontecendo, parecia que eu ia dar uma entradinha e depois sair, mas na hora que eu entrei e olhei pra trás vendo os meus pais, a Cynthia, a Fabi, Nathalie e a minha querida tia Aracy, NOSSA, o mundo passou pela minha cabeça, eu sentia um nó tão forte na garganta que se eu tentasse falar acho que ia gritar.
Quando essas coisas aconteceram foi tão intenso, eu me sentia tão nas mãos do destino, vulnerável.
Mas agora tudo passou, ficou longe parece que tudo aconteceu em um dia, um único dia.
Eu falava pro meu pai que nesse tempo eu tinha envelhecido 30 anos, agora nós tínhamos a mesma idade, e eu acho que ele sabia que era verdade.
Não me arrependo do que eu fiz, não só porque estou aqui e tudo está dando certo, mas porque esse aprendizado ninguém poderia me dar se não fosse a própria vida.